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sábado, 20 de outubro de 2012

O VENENO NOSSO DE CADA DIA



Filme de Mari-Monique. Após 34:58 min a legenda esta em português

Our Daily Poison / Notre poison quotidien.

"A problemática dos pesticidas, que tantos males causa à população mundial. Um documentário chocante que revela a falta de segurança no sistema que esta  está mais preocupado com a proteção de segredos comerciais do que com a saúde humana.

"Notre poison quotidien" (O veneno nosso de cada dia), de Marie-Monique Robin, tenta também desvendar como são calculados os valores de IDA - Ingestão Diária Aceitável - para diversos produtos como agrotóxicos, resíduos de plásticos e o aspartame.

A Ingestão diária aceitável - IDA - é um valor numérico, medido em mg/kg, que determina a quantidade que se pode consumir de uma substância durante todos os dias, com segurança, por toda a vida. Na prática, para os agrotóxicos, por exemplo, determina qual limite máximo de resíduo é aceitável em um alimento. Era de se esperar que este índice fosse calculado com um alto grau de rigor científico, para que em nenhum momento colocasse a vida dos consumidores em risco.

Mas Marie-Monique nos mostra justamente o contrário.

 No mesmo estilo investigador de "O Mundo Segundo a Monsanto", a diretora percorre centros de pesquisa e agências reguladoras em vários países tentando descobrir como este índice é definido.

 E ela não deixa dúvidas: através de estudos científicos pagos pelas empresas, e com a ajuda de diretores de agências reguladoras com ligações com a indústria, os próprios fabricantes das substâncias é que definem o nível aceitável."

Por Victor Mendes


Ainda sobre a ingestão diária aceitável que é um dos temas centrais do filme de Marie Monique, vejamos     a seguir o questionamento feito pela Associação Brasileira de Saúde  coletiva – ABRASCO.






A avaliação dos impactos dos agrotóxicos na saúde decorrente do consumo de alimentos produzidos com a utilização de agrotóxicos é realizada fundamentalmente com base em estudos experimentais animais, nos quais o principal indicador é a ingestão diária aceitável - IDA. Parte-se da crença de que o organismo humano pode ingerir inalar ou absorver certa quantidade diária, sem que isso tenha consequência para sua saúde. O IDA deriva de outro conceito a dose letal de 50% de morte de cobaias expostas (DL50). Trata-se de um indicador de toxicidade que significa que a metade da população de cobaias no estudo morre ao ser submetido a uma determinada concentração de agrotóxico. Mediante uma abstração matemática, esse número é extrapolado para os humanos. Assim se busca um valor aceitável de exposição humana. Esses indicadores não têm sustentabilidade científica quando queremos tratar de proteção da saúde. Trata-se na realidade de uma forma reducionista do uso da toxicologia para sustentar o uso de veneno, criando álibis cientificistas para dificultar o entendimento da determinação das intoxicações humanas especialmente as crônicas, decorrentes das exposições combinadas, por baixas doses e de longa duração (Carneiro, 2012, pág 47).  

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA,   também questiona a metodologia adotada para definir os limites de ingestão diária ao não considerar muitos outras fatores importantes para a segurança  da saúde das pessoas como coexposições, idade, sexo, nutrição, situações fisiológicas, genética, condições de trabalho, condições de vida e além do que o organismo humano não se comporta de uma forma idêntica como se fosse uma máquina:



Outro aspecto importante, que traz preocupação para o Consea, é o fato de que as metodologias utilizadas pelo governo para definir os limites da Ingestão Diária Aceitável (IDA) de agrotóxicos levam em consideração um “indivíduo médio de 60 kg”, menosprezando, portanto, o impacto dessas substâncias sobre grupos mais vulneráveis como idosos e crianças, entre outros. Além disso, esse conceito, que deveria ser um parâmetro para garantir a saúde da população exposta a alimentos com agrotóxicos, não considera os efeitos da combinação de vários agrotóxicos ingeridos em uma mesma refeição ou ao longo do mesmo dia (CONSEA, 2012 pág. 24).


Corraborando o texto acima Wanderlei Pignati doutor  em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso em entrevista  a revista Galileu  também questiona os limites de Ingestão Diária Aceitável pois os sistemas de resposta do organismo humano não são iguais e isso não é considerado e além do que esses limites variam de acordo com o país o que coloca em xeque o rigor científico que deveria ter ao estipular os limites de ingestão diária.

Existe hoje a determinação de um limite máximo de resíduo por alimento. Esse limite não deveria existir, é absurdo. Cada pessoa tem uma sensibilidade diferente aos produtos. Sabe como esse limite é determinado? A partir da média da sensibilidade das pessoas, são medidas arbitrárias. No Brasil, por exemplo, um quilo de soja pode ter 10 miligramas de glifosato [princípio ativo de um agrotóxico famoso]. Nos EUA o limite é de 5 mg, na Argentina 5 mg, mas na Europa é 0,2 mg (REVISTA GALILEU, 2010).


No Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente, Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde também questionou o limite de ingestão diária permitida de agrotóxicos:


(...) a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos segue um modelo linear de dose e efeito, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro. Segundo Karen, estudos recentes têm comprovado que a exposição humana a baixas doses de agrotóxicos causa desregulação endócrina e imunotoxidade. A desregulação endócrina gera efeitos como alterações nas funções hormonais, responsáveis pelos processos neurocomportamentais, reprodutivos, nas funções cardiovasculares, renais, intestinais, neurológicas e imunológicas. No caso da imunotoxidade, disse ela, podem ocorrer reações alérgicas e de hipersensibilidade ou imunossupressão, tornando as pessoas mais suscetíveis ao aparecimento de tumores ou à infecção por patógenos. Os períodos mais críticos são o pré-natal e pós-natal, quando se desenvolvem o sistema nervoso, endócrino e imunológico (Informe ENSP, 2012).

Esta pequena revisão sobre a Ingestão diária aceitável faz parte do trabalho de conclusão de uma pós que estou fazendo e o TCC é sobre AGROTÓXICO NO BRASIL – USO E IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE E A SAÚDE PÚBLICA

Fonte: 
Carneiro FF, Pignati W, Rigotto RM, Augusto LGS, Rizollo A, Muller NM, Alexandre VP, Friedrich K, Mello MSC. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2012. 1ª Parte. 98 p

CONSEA  - Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional . Os impactos dos agrotóxicos na segurança alimentar e nutricional: contribuições do Consea. Disponível em: < http://www4.planalto.gov.br/consea/noticias/imagens-1/mesa-de-controversias-sobre-agrotoxicos/caderno-da-mesa-de-controversias-sobre-agrotoxicos> Acesso em: 29 setembro de 2012

Revista GALILEU, 2010.              Entenda porque o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Disponível em: :< http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI150920-17770,00-ENTENDA+POR+QUE+O+BRASIL+E+O+MAIOR+CONSUMIDOR+DE+AGROTOXICOS+DO+MUNDO.html>. Acesso em: 01 de outubro de 2012.

Informe ENSP, 2012.   Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. Seminário discute os agrotóxicos e os impactos na saúde pública. Disponível em:<   http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/30423>. Acesso em: 29 setembro de 2012.


Para saber mais:

O VENENO ESTA NA MESA de Silvio Tendler.






O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO  de  Marie -  Monique

Veja um resumo do filme acessando:






Para aprofundar:







Exposição a agrotóxicos pode causar alterações no DNA, mostra pesquisa

Estudo mostra que uso de agrotóxicos pode mudar o comportamento de gerações futuras

ATUALIZAÇÃO EM  21 OUTUBRO 2012

Veja Também:

Uma reportagem de Rui Araújo para o Repórter TVI.

Uma investigação sobre os alimentos perigosos que são vendidos nos grandes supermercados em Portugal.



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