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domingo, 28 de abril de 2013

Agricultores assentados plantam goiaba para mercado em São Paulo



Agricultores assentados no estado de São Paulo estão deixando de trabalhar só para o sustento da própria família e se tornando empreendedores. Encontraram no cultivo da goiaba o mote para essa transformação, e o produto de qualidade tem agradado o consumidor.

É na feira de domingo que os assentados do sudoeste paulista vendem boa parte da goiaba que sai dos seus lotes. O início de todo assentamento é praticamente o mesmo. Com a regularização das terras, as famílias dos agricultores se dedicam, em um primeiro momento, às atividades de subsistência: o plantio do feijão, da mandioca, a criação do gado de leite.

Com o passar do tempo, vem a descoberta da vocação agrícola do lote. Em uma região de São Paulo, é a fruticultura que aparece como a principal fonte de renda de muitos assentados, e o destaque é a goiaba.
O produto agrada tanto os consumidores da cidade. A cerca de 100 quilômetros da capital São Paulo, transitando entre os municípios de Iperó e Porto Feliz, em 1998, o Instituto de Terras do Estado de São Paulo incentivou o desenvolvimento De uma lavoura entre os assentados.

A agrônoma Maria Izabel Dorizzotto acompanha esse trabalho desde o início, e viu a plantação crescer até os atuais 1.200 pés de goiaba, principalmente das variedades Pedro Sato e Tailandesa.

“Nós entendemos que é uma atividade que tem tudo a ver com a agricultura familiar: o intenso uso de mão de obra, uma rentabilidade grande em pequenas áreas e a proximidade com o grande centro consumidor. A goiaba tem muita aceitabilidade no mercado, e nós entendemos que é uma cultura que deveria ser estimulada”, afirma Dorizzotto.

Para oferecer uma goiaba de qualidade, os assentados tiveram que adotar uma série de técnicas para produzir mais e melhor. O grampeador e o saquinho de papel têm muito a ver com um dos principais procedimentos adotados por aqui: o ensacamento dos frutos.

“Para prevenir o ataque da mosca-da-fruta. O fruto não fica bom para o comércio. Perda total no fruto quando ela pega”, diz o agricultor Claudinei Lemes, que consegue ensacar em torno de 2.000 a 2.500 frutos por dia.
Com a lavoura “enfeitada”, os agricultores conseguiram reduzir, e muito, o número de pulverizações para controlar as principais pragas que atacam a cultura. Nos frutos ensacados, fica até difícil encontrar o já conhecido bicho da goiaba.
A larva da mosca-da-fruta fura a goiaba e faz um estrago no seu interior. Para o controle dessa e de outras pragas, os agricultores costumavam fazer de dez a 12 pulverizações ao ano. Com o uso do saquinho, a aplicação não passa de duas ou três vezes no ano. Isso é feito antes do ensacamento, quando os frutos ainda estão pequenos.

Já acostumado a caprichar nos cuidados da sua lavoura, o agricultor Carlos Dellai resolveu aprimorar a técnica do saquinho. Abandonou o papel e adotou o plástico. “Estou fazendo essa experiência com saquinho plástico por conta da época de chuvas. Na época de chuvas, o saquinho de papel rasga muito”, diz.
“A gente faz um pequeno corte no fundo do saquinho onde o fruto transpira aqui e não tem o problema de danificar o fruto. Já é a segunda vez que a gente está fazendo a experiência e tem dado certo”, explica Dellai, que também faz uso de outras técnicas.

O consórcio entre goiaba e limão também é usado no lote de Dellai e tem dado bons resultados. “A gente entende que o limão é uma planta que cresce alta, é uma planta vigorosa e, além de dar frutos, também acaba servindo de quebra-vento para a goiaba, protegendo a goiabeira, tanto a planta quanto o ensacamento que a gente faz dos frutos”, afirma.

Com os 100 pés de goiaba que tem na propriedade, Dellai consegue produzir algo em torno de 2.500 quilos da fruta por ano, em duas safras, mas isso só é possível graças à irrigação.

Com os pés distribuídos de maneira estratégica, até o limão plantado nas linhas se beneficia da água dos aspersores. “É importante, na instalação da irrigação, a gente comprar aspersores que jogue a água mais na horizontal, porque a água batendo constantemente com a irrigação nos brotos novos da goiaba, ele vai danificar e aí vai permitir a entrada de doença”, diz o agricultor.

Com o intuito de se profissionalizar, Edilson Faccini também decidiu ensacar as goiabas do seu pomar. Foi um dos últimos assentados a adotar essa técnica. “Pelo fato até da condição financeira, porque é um custo mais caro para ensacar, e a mão de obra. Vamos gastar aí na faixa de R$ 20 o milheiro de saquinho, só que aí vem a mão de obra, que a gente tem que se desdobrar muito”, justifica.

Élcio da Silva é o enteado de Edilson e seu braço direito na lida com a goiaba. Em um talhão, está fazendo a poda e o raleio da plantas para estimular a brotação dos pés. Com a lavoura dividida em talhões, Élcio e Edilson têm plantas em floração, ensacadas, a ensacar e em produção.

O dia da colheita é o dia da prova para saber se a trabalheira de ensacar todas as goiabas realmente valeu a pena. Para saber se a goiaba está pronta para a colheita, basta olhar a coloração dentro do saquinho.

Enquanto Edilson tira os frutos maduros dos pés, Élcio se responsabiliza pela seleção das goiabas. “Separo as boas e as que têm algum descarte, que passarinho bicou e está mais machucadinha, descarto”, diz.
O fruto é vendido na feira de todo domingo no bairro Júlio de Mesquita, em Sorocaba, lugar movimentado e que hoje conta com a ajuda de Celina, esposa do Edilson e mãe de Élcio.

O quilo da goiaba na feira de Sorocaba sai por R$ 3.50. Além da venda na banca, os assentados também entregam a fruta para o comércio da cidade e para o programa Fome Zero.

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