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terça-feira, 30 de abril de 2013

Impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores do campo


 Pesquisas médicas apontam que os agrotóxicos prejudicam a saúde das pessoas que trabalham com essas substâncias químicas. Os agrotóxicos estão entre os principais agentes tóxicos no país, com índices abaixo apenas de medicamentos, animais peçonhentos e produtos sanitários. Esse impacto pode ser definido de forma mais evidente a partir dos chamados efeitos agudos nos trabalhadores, mas há também os efeitos crônicos.

De acordo com dados de 2007, do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), 28% dos mais de 8 mil casos de contaminação estão relacionados a circunstâncias profissionais. São Paulo e Rio Grande do Sul estão nas primeiras posições. Os índices são elevados também na Bahia e em Santa Catarina. A Sinitox também apontou que foram registrados, no país, mais de 19 mil casos de intoxicação por agrotóxico.

O médico e professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Wanderlei Antonio Pignati, enumera as doenças causadas pelos agrotóxicos nos trabalhadores.

“São agravos, na saúde, agudos e crônicos. Intoxicações agudas e crônicas, má formação fetal de mulheres gestantes, neoplasia (que causa câncer), distúrbios endócrinos (na tiroide, suprarrenal, e alguns mimetizam diabetes), distúrbios neurológicos, distúrbios respiratórias (vários são irritantes pulmonares)”

A juventude está entre os principais afetados. O produto Adicarbe, mais conhecido no campo como “chumbinho”, é desviado para os centros urbanos para ser usado como raticida. O produto glifosato, aplicado no cultivo de soja transgênica, apresenta Classe 1 de contaminação, o que significa um índice elevado de intoxicação, sendo que a cultura da soja, onde o glifosato é aplicado, é responsável por 51% do uso de agrotóxicos no país.

Há, no Brasil, cerca de 451 produtos ativos e 1,4 mil produtos no mercado, cada um com nocividade específica. Os especialista admitem que é difícil desvendar o nexo entre a doença e o produto que a causou. Um dos problemas é a chamada subnotificação das ocorrências, que acontece porque os empresários não reconhecem o vínculo entre a doença do trabalhador e a sua causa. Por isso, os dados de intoxicação são ainda maiores.

No Mato Grosso, o médico Pignati realiza estudos comparando dados epidemiológicos das regiões do estado com diferentes níveis de utilização de agrotóxicos. Nas três regiões do agronegócio da soja, milho e algodão, há uma incidência três vezes maior de intoxicação aguda.

“Analisando por regiões o sistema de notificação de intoxicação aguda da secretaria municipal, estadual e do Ministério da Saúde, percebemos que onde a produção é maior, há mais casos de intoxicação aguda, como diarreia, vômitos, desmaios, mortes, distúrbios cardíacos e pulmonares, além de doenças subcrônicas que aparecem um mês ou dois meses depois da exposição, de tipo neurológico e psiquiátrico, como a depressão. Há agrotóxicos que causam irritação ocular e auditiva. Outros dão lesão neurológica, com hemiplegia, neurite da coluna neurológica cervical”.

De acordo com Gilberto Salviano da Silva, assessor da Secretaria de Saúde do Trabalhador da Central Única dos Trabalhadores (CUT), há uma política de saúde do trabalhador mais consistente entre os trabalhadores urbanos. Mas os casos de acidentes e doenças na zona rural ainda têm menor notificação.

“O que notamos é que todas as normas em saúde do trabalhador têm sido focadas no trabalhador da cidade, então existem normas mais presentes e avançadas no setor da metalurgia, no setor financeiro, químico, da construção civil, e nem por isso, com estas normas, se conseguiu diminuir o número de acidentes de trabalho no Brasil; temos que entender que sempre foram subnotificados. Temos o problema dos empresários que negam as doenças e não comunicam.”

Salviano entende que o índice de notificações é insuficiente. Desde abril de 2007, começou a aumentar devido ao novo modelo de concessão de benefícios do INSS, denominado como Nexo Técnico Epidemiológico da Previdência Social (Netep).

Dessa forma, tem aumentado o número de registros de acidentes e doenças no Brasil. De acordo com o assessor da CUT, em 2006 foram registrados 510 mil acidentes. Em 2008, as estatísticas apontavam para quase 750 mil acidentes de trabalho.

“Essa subnotificação de doenças dificulta a visibilidade sobre o que acontece no local de trabalho. E o setor rural, isso é muito evidente, a ausência das informações, doenças e mortes por consequência do agrotóxico dificulta as ações de políticas públicas; esta subnotificação, no campo, é parecida com a da cidade. Os empresários negam que os trabalhadores fiquem doentes no campo. O serviço médico não está preparado para o diagnóstico; às vezes, os trabalhadores se contaminam ou morrem, e aparecem outras doenças. Então, as dificuldades, no campo, têm sido maiores”

Para a prevenção dos acidentes, Salviano compara as ações realizadas contra o uso do material amianto na construção civil. Hoje o amianto está proibido em uma série de estados do Brasil, por meio da articulação internacional com entidades contrárias ao uso deste material.

“Começar a chamar a atenção civil e criminal daqueles que fabricam produtos que provocam impacto no meio-ambiente, morte e doença dos trabalhadores, caminho possível para fazer valer a justiça social”

O uso de agrotóxicos provoca efeitos graves na saúde humana, como o desequilíbrio do sistema endócrino, infertilidade masculina, más formações e abortos, efeitos nas crianças e doenças nos sistema nervoso.

Nas terras da Chapada do Apodi e do Tabuleiro das Russas, no baixo vale do Jaguaribe, no Ceará, as pessoas vivem sob o regime de trabalho de empresas produtoras de abacaxi. Os cultivos são ao redor dos locais de moradia. Se uma área recebe oito pulverizações por ano, mais de 4,5 milhões de litros de caldas tóxicas foram lançadas sobre as comunidades nos últimos dez anos.

Todas as noites, 82 mil litros de agrotóxicos são jogados sobre 1,3 mil hectares de cultivo de abacaxi. Do total de trabalhadores pesquisados na região, 53% já têm marcas da exposição diária a agrotóxicos.

Os impactos para a saúde dos trabalhadores do campo, pelo uso dos agrotóxicos, evidenciam a necessidade de um debate sobre o tema no amplo conjunto da sociedade. O integrante do setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), André Rocha, propõe um modelo de produção baseado na saúde ambiental.

“Saúde ambiental é uma área da saúde [que analisa] as interferências do homem no meio ambiente... como o meio influi na saúde humana, [como se dá] essa relação entre saúde e meio ambiente. Nós, do MST, nos dividimos em dois eixos: produção saudável e do saneamento ecológico/habitação saudável. Nossos locais de vivência e centros de formação. Construir espaços saudáveis, produção saudável. Cada bioma é uma realidade específica, um trabalho específico, mas o da produção saudável, produzir a soberania alimentar e consequentemente ter saúde questão contra os transgênicos, agrotóxicos”.

Reportagem: Pedro Carrano.
Fonte: Radioagência NP

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Todavia, é a partir de 1975, com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que cuidou da abertura do Brasil ao comércio internacional desses produtos, que ocorrerá um verdadeiro boom na utilização de agrotóxicos no trabalho rural. Nos termos do PND, o agricultor estava obrigado a comprar tais produtos para obter recursos do crédito rural. Em cada financiamento requerido, era obrigatoriamente incluída uma cota definida de agrotóxicos (Garcia, 1996; Meirelles, 1996; Sayad, 1984) e essa obrigatoriedade, somada à propaganda dos fabricantes, determinou o enorme incremento e disseminação da utilização dos agrotóxicos no Brasil (Garcia, 1996; Meirelles, 1996).

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000400013

Ciência & Saúde Coletiva - Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador rural

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