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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

“Milhares estão com câncer na região por causa dos agrotóxicos”, afirma promotor



Desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela Anvisa. Segundo o Dossiê Abrasco – um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos.


 Desses, segundo a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas. Um estudo da Embrapa Clima Temperado mostrou recentemente que o Noroeste Gaúcho é a região que mais aplica veneno em lavouras no Brasil. Como o País está em primeiro lugar no ranking mundial de utilização de agrotóxicos, logo, a nossa região hoje é a que recebe a maior carga desses produtos tóxicos no Planeta.

Segundo o promotor de Justiça em Catuípe, Nilton Kasctin dos Santos, o Brasil se transformou num verdadeiro “paraíso” para as multinacionais que fabricam agrotóxicos. Estas empresas cometem várias irregularidades para vender esses produtos. Mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos.

Santos acredita que o uso dessas substâncias é responsável por boa parte das doenças como o câncer e outras genéticas. Segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o glifosato, por exemplo, está comprovadamente associado ao surgimento de câncer.

– Do que adianta ter dinheiro e ficar doente? Milhares de pessoas na região hoje estão em tratamento contra o câncer por causa dos agrotóxicos e não se faz nada. Parece que ninguém quer ver o que está acontecendo, protesta Santos.

O promotor acredita que não existe método seguro para se aplicar nenhum agrotóxico.

– Esses produtos foram criados para matar todos os seres vivos que forem atingidos por eles. Plantas, animais e, inclusive, nós, seres humanos, estamos nos envenenando. Não adianta usar avental, máscara e luvas de proteção. O paraquat, por exemplo, atravessa esses materiais e chega na pela dos agricultores, afirma o promotor.

O herbicid Paraquat, muito procurado pelos agricultores, sofre ações na Justiça que pedem a proibição deste agrotóxico, alegando seu alto grau de toxicidade caso ingerido ou inalado, e por ferir lei federal ao não possuir antídoto em caso de contaminação. O herbicida já é proibido em seu país de origem, a Inglaterra, e até na China, maior produtora mundial do produto.

Dados do Centro de Informação Toxicológica (CIT) — vinculado à Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul — revelam que de janeiro de 2005 até julho de 2016 foram feitos 276 atendimentos por exposição ao paraquat no Estado, que resultaram em 52 mortes, sendo a maioria delas por consumo.

Considerando apenas 2014, foram 661 atendimentos por exposição a agrotóxicos – 26 por paraquat e 187 por glifosato. A diferença é que os casos de glifosato não geraram óbitos naquele ano e o contato com o paraquat foi responsável por três das cinco mortes por agrotóxicos. O coordenador do núcleo estatístico do CIT, Carlos Alberto Lessa, explica que a maioria dos problemas é causada pela falta de proteção no uso dos defensivos e pela ingestão proposital.

Enquanto isso, essas substâncias são vendidas e usadas livremente no Brasil. O 24D, por exemplo, é um dos ingredientes do chamado ‘agente laranja’, que foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.

O médico e professor Wanderley Pinhatti pesquisa os impactos dos agrotóxicos para a saúde e o ambiente. Ele explica o que acontece quando são aplicados esses produtos nas lavouras.

– Primeiro vai para os alimentos. Ele vai para a planta e depois ele vai sair para os grãos. Uma parte vai para a água, atinge o lençol freático e depois sai na água que a gente está bebendo. Uma parte evapora, vai para o ar e atinge quilômetros de distância. Outra parte, inclusive, condensa na chuva, vai para outros animais, quer dizer, contamina o solo. Nos humanos, vai para o sangue e a urina, vai para o tecido gorduroso”.

O coordenador-geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Ibama, Márcio Freitas, explica que antes de ser comercializado no país, o agrotóxico precisa passar por avaliação.

“Isso é feito por três órgãos: pelo Ibama, que avalia a questão ambiental, pela Anvisa, que avalia a questão de toxidade humana, e pelo Mapa, que avalia a eficiência agronômica. Se o agrotóxico, portanto, está sendo comercializado oficialmente no Brasil, ele pode ser considerado seguro, embora todos eles sejam potencialmente perigosos”.

Fonte:Controvérsia Blog

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